domingo, 3 de junho de 2012

Pirómanos em Atenas

Hoje falamos da quase certa saída da Grécia do Euro, em especial face ás sondagens que colocam o Syriza à frente de um governo com o principal objectivo de rasgar o acordo com a troika. Certamente este partido, mesmo não tendo um programa apoiado pela maioria, poderá dinamitar toda a Grécia, se se tornar o principal partido dado a lei grega dar um bónus de 50 deputados à força política mais votada. Uma autêntica usurpação de votos que pode dizer um pouco sobre o desnorte político do país, sabendo á partido que não somos melhores nesse ponto.
Outras forças políticas tanto ou mais extremistas, tanto à esquerda como à direita, poderão querer seguir o Syrizia no rasgar de acordo por princípio ou por demagogia, mas para pouco mais se disponibilizarão a governar, tamanha é a disparidade política do país.

A Grécia só terá uma moratória na sua tragédia se a Nova Democracia for o principal partido e esta respeitar o acordo.

As consequências da saída do Euro para a Grécia serão, segundo muitos economistas devastadores para a economia grega com uma década perdida, recessão quase garantida por meia década e tudo isto implicando um perdão da dívida total. No entanto outros economistas prevêem um cenário bastante menos negro, com um agravamento da recessão ainda que moderado nos próximos cinco anos da presente situação na Grécia.
Não sei no que é que Alex Tsipras, líder do Syriza, se apoia em termos de previsões económicas para a Grécia para advogar este rasgar de acordo, se simplesmente não aceita o acordo pelos efeitos que este tem no presente ou se não aceita o acordo por estas duas razões. Contudo Alex Tsipras e muitos outros políticos e gregos acreditam que a Grécia poder ser o bombista suicida, aquela nação que não tem nada a perder, que pode intimidar as outras nações com as avultadas perdas do default para os bancos franceses e alemães com algo que pode ser apenas bluff, um simples esticar de corda com objectivo de melhorar o acordo ou uma verdadeira intenção de lhes colocarem um tapete vermelho para receber sem cumprir o acordo. Eles próprios dizem que a situação deste modo é insustentável, que não poderão perder mais. Assim é fácil perceber que a única alternativa é encostar o BCE, a comissão e a Alemanha à parede dizendo que a Europa perderá muito, até mais que a Grécia com a saída desta do Euro.
A verdade é que ainda não falaram verdade aos gregos, tendo muitos políticos e partidos sido demagógicos e falado da troika como sádica e não como um pacto de emergência para um situação de peri-cataclismo.

Independentemente das crenças políticas que cada grego, dos seus esforços para atingir as metas exigidas no acordo,muitos gregos já há muito que terão chegado à conclusão que poderia ter sido conseguido um melhor, que este acordo apenas serve os credores, que emprestaram em regime de usuária e ajudaram a mascaram a realidade da dívida, a resgatarem pelos menos parte do dinheiro e que este acordo nunca visou a recuperação económica para a austeridade e recessão que seriam necessárias. Mesmo com o cumprimento do acordo e a reestruturação da dívida, uma Grécia empenhada em cumprir dificilmente conseguiria respeitar o acordo. O acordo foi feito em moldes que desprezaram a dimensão do problema, impuseram prazos curtos e juros incomportáveis para as imposições feita no início.
Os gregos poderão ter muito para reclamar da UE, dos seus órgãos, do BCE, da Alemanha e em especial dos seus políticos que durante gerações ocultaram a realidade. No entanto temos que fazer um exercício de responsabilização. Na democracia não só se exige direitos, a boa fé democrática também exige deveres. O dever de exigir a verdade e explicações, e neste caso a realidade financeira de uma nação.


Uma verdadeira democracia quer negociar primeiro antes de romper o que quer que tenha acordado. Uma verdadeira democracia cumpre o acordado, dispõe-se ao sacrifício de suportar uma responsabilidade comum, pagando os impostos, aceitando, ainda que com limites e negociação os sacrifícios exigidos. Tem que exigir não apenas verdade e direitos mas o também escrupuloso cumprimento dos deveres éticos dos políticos que elegemos..