segunda-feira, 11 de junho de 2012

Tantos devem tanto por tão poucos

O Nuno vai-me perdoar por seguir-me ao post dele como uma usurpação destas, mas tal como o cartaz dizia nunca tantos deviam tanto a tão poucos. Em Portugal, nação em paz desde há 35 anos, posso dizer que é o inverso. Nunca tão poucos deveram tanto a tanta gente.

Falo claro da recapitalização da banca, tida como necessária por muitos, e não querendo esgrimir argumentos de carácter técnico com pessoas que têm muitos mais conhecimentos nesta área do que eu, gostava apenas de lembrar que os bancos puramente e simplesmente não emprestam. Na altura em que mais precisávamos deles para relançar os fundamentais da economia ou seja o apoio financeiro à produção e á exportação, mesmo com taxas de juro absurdamente baixas concedidas pelo BCE, tendo em conta as condições de mercado, os bancos secam o crédito. Mais uma vez apenas disponibilizam a quem não tem necessidade dele. Com a capitalização dos bancos pelo Estado, este ganha o direito a eleger um administrador que Passos Coelho já prometeu ser um agente silencioso em vez de um agent provocateur como na Inglaterra, nos EUA ou outros inúmeros países onde os euros suados dos contribuentes são respeitados e quando estas notas entram nos bancos ou outra empresa privada com um objectivo de bem comum maior, vêm com condições de não desbaratar ou desviar do seu propósito, havendo sempre o tal accountability ou seja responsabilização (engraçado tamanha palavra não ter tradução literal para português). Os bancos ficam com a sombra do Estado mas podem fazer o que quiserem com o dinheiro pois o administrador do Estado é uma formalidade e apenas mais um job para um qualquer boi(Y).(peço perdão pela piada fácil)

O dinheiro de todos parece preocupação pouca para os políticos. Afinal o dinheiro público não é de todos, para efeitos práticos sim, mas quem paga impostos são os que trabalham todos os dias, que são lixados na declaração por erros menores, aqueles que apenas pecam por serem otários e não baterem o punho na mesa e exigir igualdade de tratamento para os grandes usurpadores. Quem são os usurpadores? Os bancos que pagam na prática muito menos que qualquer empresa em IRC, o pessoal do off-shore que raramente paga os impostos devidos e quando os paga apenas paga uma taxa não progressiva e está abaixo da incidência da maioria dos trabalhadores dependentes.

Em nota de rodapé queria dizer que o verdadeiro patriota não é aquele que anda com a bandeirinha, o cachecol ou berra a Portuguesa, mas lê as notícias, conhece os factos, juíza racional e ponderamente com bom senso e calma a realidade. Sei que a realidade é uma cortina de fumo feita com a espuma dos dias para muitos, para aqueles que querem pensar o país e a vida comum existe um esforço para além daquilo que nos é servido de bandeja  por media medíocres ou comprometidos, pois como o povo diz não existem almoços grátis, na informação e na política é tal e qual. Em mais uma nota de rodapé na altura em que os bancos voltarem a ter grandes lucros alguém lhes lembre que quando precisaram de ser amparados estivemos cá, talvez da próxima não conseguiremos estar, por isso eles que criem as suas próprias reservas ou que o governo se disponibilize para cobrar mais ao bancos no tempo das vacas gordas para depois os salvar com a merda atingir o teto.