segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Vagas Medicina

Hoje quando estava a pensar sobre o que escrever até estranhei nunca ter escrito sobre este tema.

Começam agora a surgir alguns ecos na imprensa sobre as antigas pretensões dos estudantes de medicina e dos seus representantes que pedem que se diminuam as vagas de acesso ao curso de medicina. Concordo que as vagas devem ser racionalizadas com base em estudos concretos e de médio a longo prazo, não só a medicina como a todos os cursos. Ou seja, urge fazer um estudo estrutural do ensino da medicina e das necessidades de médicos do nosso país com base na geografia/demografia e na especialidade.

Só deve haver o número de vagas suficiente para cobrir as necessidades, obrigando os alunos a escolher as especialidades e os locais mais necessitados por mais que isso seja um pouco limitante. Os que não se querem sujeitar a estas regras têm a opção de emigrar. Deve também ter em linha de conta a qualidade de ensino, pois torna-se incompatível ter uma aprendizagem eficaz quando um doente tem 12 alunos à sua volta.

Por exemplo, se em 2020 são precisos 1000 médicos, 500 de Medicina Geral e Familiar, sendo que 100 são precisos em Bragança (e isto é fácil de estudar e em anexo vou colocar um estudo que demonstra isto), então em 2014 só devem abrir 1000 vagas para medicina e em 2020, 50% desses estudantes eram obrigados a ir para Medicina Geral e Familiar e 10% para Bragança. Em teoria isto já acontece, mas por cunhas, incompetência do sistema ou outra razão que me escapa há uma grande discrepância entre as necessidades e as reais ocupações.

Esta discrepância causa uma diferença de sentimentos entre os alunos de medicina e a população em geral. Os alunos de medicina preocupam-se pois já vêm alguns colegas de certas especialidades a não conseguir vagas, a população em geral vê as frequentes notícias de contratação de médicos estrangeiros para determinadas especialidades.

Outra crítica dos leigos consiste na média alta do curso. Mas isso baseia-se, obviamente, na relação oferta-procura. Se o curso é o mais procurado, só vão entrar os melhores alunos, daí a média ser tão alta. Não me parece minimamente razoável que se abram vagas aleatoriamente só para que as médias baixam.

Esta semana esta crónica é ligeiramente corporativista, embora pense que expõe os factos de uma forma idónea e com conhecimento de causa. Mas para a semana darei, ainda sobre este tema, umas alfinetadas no corporativismo médico.

Em anexo segue a notícia no Diário de Notícias sobre o tema e o estudo da Administração Central do Sistema de Saúde sobre as necessidades do SNS!

Pedro von Hafe Leite