quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Educação não é Formação

Nas próximas semanas iremos explorar os problemas e possíveis soluções para o sistema educativo.


Primariamente, penso ser importante analisar alguns pontos onde uma política educativa assenta. Começaremos por tentar perceber qual é a função do sistema educativo.


Designa-se ao conjunto de estrutura lectiva nacional de sistema educativo, mas será que na realidade é um sistema educativo ou será mais um sistema formativo.


Penso que, infelizmente, cada vez mais se confunde educação com formação.


"Antigamente" a educação (transmissão de valores morais, éticos, cívicos, e de adequação comportamental) era, maioritariamente, da competência da família e não da escola; sendo que na transmissão de conhecimentos "técnicos" a proporção invertia-se.


No entanto, progressivamente, com a desagregação da estrutura social baseada no modelo familiar, a escola foi absorvendo uma boa parte da função educativa. Isto acontece porque cada vez os pais saem cedo e regressam tarde a casa, ficando as crianças nas instituições. Quando têm tempo para estar com os seus filhos, querem que esse tempo seja de "qualidade" e por isso não querem birras, choros, amuos, ou que os filhos os achem "maus", acabando por fazer quase todas as vontades aos filhos.


Concomitantemente, foram-se perdendo "figuras de autoridade e respeito" (ex: professor, policia, padre, pai), as quais eram "intocáveis". Quem, hoje com mais de 45 anos, se atrevia a desobedecer/desrespeitar alguma das figuras supra-mencionadas no seu tempo de criança/adolescente? Ninguém! Assim, com o desaparecimento destas figuras, destes "limites", tudo se tornou possível. Consequentemente, hoje numa escola secundária quando um professor tenta impor respeito / disciplina, não é raro ouvir-se a frase: "quem és tu para me falar assim, se nem o meu pai me fala assim?!".


Chocante? Sim. No entanto, eles têm razão! Que sentido faz, ou se preferirem, como é que se explica a uma criança, que um "estranho" possa impor-lhe regras se os próprios pais (teoricamente figuras máximas do respeito) não o fazem?


Desta forma, antes de trabalhar no modelo de sistema lectivo é necessário debater e escolher que tipo de sociedade queremos, nomeadamente, se queremos um sociedade baseada num modelo familiar ou se, por outro lado, preferimos uma sociedade mais "social" onde o "sistema" fica encarregue de formar e educar as crianças.


Se optarmos pela segunda hipótese, então teremos que criar todas as condições para que ela funcione, designadamente, criar e fornecer aos professores as "ferramentas" necessárias para poderem proceder a essa tarefa. Algo que, paradoxalmente, os professores não só não têm tido, como têm visto ser-lhes retirado. Desta forma, actualmente, chegamos ao absurdo de exigir mais funções ao sistema, enquanto paralelamente se lhe retira capacidades instrumentais para tal; pois o que contou para os sucessivos governos foram os "números" para mostrar ao exterior e não os números serem apenas a consequência da real capacidade educativa e formativa nacional. Isto acontece porque os governos estão interessados apenas nos "resultados" imediatos e não em resultados reais, robustos e consistentes. Aquele tipo de resultados dos quais só se tem o retorno décadas mais tarde quando essas crianças forem adultos e se tornarem profissionais mais competentes e produtivos e cidadãos mais responsáveis e activos.


Com esta "política educativa" das últimas décadas, conseguiu-se o paradoxo de ter cidadãos cada vez mais formados mas menos educados! Se para percebermos como chegamos aqui (como sociedade) temos de olhar para o passado, e se para tentarmos antecipar o futuro temos que olhar para o presente, então, com esta politica educativa, infelizmente, o futuro não parece nada risonho.



O que vai VOCÊ FAZER em relação a isso?