sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Need to know basis


Por surpreendente que possa parecer, os políticos europeus conseguiram alienar ainda mais os seus constituintes, os cidadãos europeus, de processos de decisão ou neste caso de informação concreta sobre decisões políticas. Falo claro do caso em que Schauble, em conversa privada na reunião dos ministros de Finanças da UE, aludiu a que a Alemanha estará preparada para eventualidade de uma renegociação do programa da troika. A notícia pode ser alongada com a resposta um tanto furiosa de Scauble á divulgação das imagens televisivas da dita conversa com Vítor Gaspar. Parece que os alemães ainda não estão mentalizados que terão que aliviar o fardo do endividamento externo de Portugal dos restantes PIGGS com um alargamento do programa de ajuda internacional a estes países. Como tal Schauble obteve a reacção dos Herrs e Frauleins que esperava caso tamanhas possibilidades há muito calculadas pelo governo federal alemão chegassem a público. Não querendo negligenciar os outros aspectos igualmente importantes da questão europeia e em particular da actual crise e do papel da Alemanha em tudo isto, entendo que o cerne da questão deverá ser a necessidade de instaurar, em absoluto, o direito de informação em todas as esferas da informação.
No século da informação e dos media, acho espectacular a reacção de Schauble. Este individuo sabia aquilo que muitos já economistas alemães e investidores por quase todas as praças bolsistas, em especial as americanas, que Portugal precisará de uma renegociação do programa acordado. Contra este facto quase consumado o governo alemão nega, tal como o português, que será necessário um ajustamento. Pois bem parece que a probabilidade de tal acontecer é tão elevada que a Alemanha tomou provisões nesse sentido. Querendo resumir Schauble não foi diferente de qualquer outro politico no lugar dele ou mesmo de um politico no lugar de Passos Coelho. Quis afastar a confirmação, ou melhor, a informação que o governo alemão está a contar com um ajustamento, tal informação seria devastadora para os mercados ou talvez não o fosse bem como prejudicaria as possibilidades politicas da CDU nas eleições federais alemães.
Esta acaba por ser uma velha questão, até onde podemos delegar o poder discricionário de um governo sonegar informação politicamente legitima ao um povo? Durante séculos as classes mais poderosas foram conservando uma estreita relação com os meios de comunicação social pelo poder que nestes estava encerrado, o poder da informação. Na actual realidade tecnológica, a informação é mais que um direito dos cidadãos, mas também um dever cívico que não obstante de tal é claramente limitado pelos governos. A nível nacional podemos dizer que nesse sentido muito podia ser feito, mas a nível europeu nem sabemos por onde começar. Existem meios de comunicação tão nacionais como internacionais com níveis de independência que fazem corar o resto do mundo de inveja, ou seja, em termos de oferta jornalística estamos muito bem servidos. Contudo os jornalistas não conseguem chegar a todas as informações necessárias e tal acontece em muito pelos legítimos interesses nacionais de preservar informação como confidencial e fundamental para a segurança nacional e soberania. Tal protecção é feita pelo ónus do portador de informação, ou seja, aquele que possui a informação, neste caso o governo, deve mantê-la secreta através de sistemas de segurança na informação e serviços secretos. Este é o preço que pagamos pela liberdade em todas as suas formas.
Mas quanto ao meu e o seu direito de obter informação sobre as actividades do governo? Onde está a fisga que permita-me derrubar esses Golias que é o establishement? Aquilo que permite-me defender perante os abusos das entidades oficiais que deveriam proteger os meus direitos fundamentais? Felizmente os americanos desde os anos 70, se não estou em erro, tem uma lei, o Freedom of Information Act, algo que legalmente pode ser accionado por qualquer cidadão norte-americano para pedir esclarecimento sobre as actividade do seu governo seja ele estatal ou federal nas mais várias actividades (apesar deste ter tido muito reveses com GeorgeW.Bush). Tudo isto para garantir a transparência dos agentes e do próprio governo. Talvez seja tempo de estruturar a Europa para além dos níveis diplomáticos, fiscais, orçamentais, financeiros e económicos. Precisamos de dar consistência moral á Europa e aos seus decisores políticos, precisamos de legitimidade politica para aqueles que tomam a decisões, de uma  estrutura inequivocamente democrática que garanta um estado de direito a todos os Europeus. Falta-nos uma constituição europeia que diga claramente quais os direitos e deveres dos europeus e de instituições fortes e independentes, só esse será o caminho para derrotar no longo prazo a instabilidade financeira e moral do projecto europeu.