quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Plutocracia e a Promessa do Crescimento

Na continuação da minha posta da semana anterior hoje o tema é a Plutocracia, pois claro! Desta feita, sob o prisma do Crescimento!

Num sistema capitalista, a meu ver, existem dois alvos primordiais: O lucro e o crescimento!
a) o lucro da organização: os dividendos que retira da sua actividade! conceito com formas de bolo de chocolate financeiro - apetitoso para todos: gestores (que vêm o seu trabalho corroborar as suas decisões e, por conseguinte, garantir o seu emprego), investidores (já se vislumbra o brilho do retorno pelo investimento feito na instituição), reguladores e entidades públicas (querem também, pois claro, a sua quota parte).
b) o crescimento da organização: as perspectivas de expansão de actividade ou, pelo menos, de alargamento de quota de mercado ou volume total de transacções efectuadas.

Ambos os conceitos, como disse, são alvos primordiais do sistema económico, tudo isto é claro, revestido de simplicidade de pensamento! Neste texto pretendo debruçar-me sobre o segundo: o crescimento!

Sempre que penso no texto que quero publicar acerca do crescimento relembro as páginas de Utopia, de Thomas Mann: a sociedade que o autor representa e descreve, a visão que propõe da mesma e até as soluções que apresenta para problemas diversos que surgem! Claro está que não é obra do acaso associarmos essa palavra a tudo quanto achamos inalcançavel! Relembrar apenas que a UE é, na sua génese e até há bem pouco tempo, uma Utopia... Que se poderia ter materializado! Isto é, as Utopias podem ser concretizadas (não fosse a carne tão fraca...)
Mas... O crescimento! O crescimento é, indubitavelmente, um sinal de saúde financeira de qualquer instituição, é sinónimo de sucesso, progresso e propagação das boas práticas! NADA MAIS ERRADO! E é a partir daqui que teço as minhas críticas ao Crescimento enquanto objectivo, nos moldes actuais, do capitalismo! Senão, veja-se:

1. O crescimento tem de ser feito em detrimento de algo! Em certa medida, este fenómeno é aceitável, pois é resultado do mérito dos seus obreiros, assim como pode ser reflexo da expansão de uma instituição que antes não existia ou cujo mercado está a surgir! Nesta medida, o Crescimento é imperioso continuar a existir, é saudável, é gerador de competitividade, inovação e progressão! Todavia, os casos em que as custas do crescimento são suportadas de forma não ética se verificam são demasiadas! Basta olhar para a Utopia Europeia: um verdadeiro fenómeno de canibalismo! A Alemanha é o seu expoente máximo de crescimento, contudo esse crescimento tornou-se um buraco negro que arrastou consigo países consumidores da produção alemã (PIGS) que constituem, neste momento, uma séria ameaça à economia alemã! Já o crescimento que se tem verificado no sector exportador do calçado parece ser baseado numa lógica de inovação e sustentabilidade que permite com que este sector se expanda sem que coloque em causa todo o sistema económico desta indústria (é apenas um novo e crescente player neste mercado).
2. O crescimento, sem escrúpulos, é insustentável: este fenómeno não pode continuar a verificar-se, por exemplo, no sector dos combustíveis fósseis nos pressupostos actuais. Neste contexto específico é necessário tornar este mercado mais eficiente (na sua produção ou no seu consumo) e, em última análise, torná-lo residual na economia mundial (Utopia novamente), dado o seu custo ambiental irreversível.
3. O crescimento precisa de propagação: o crescimento é, maioritariamente, verificado quando há um maior volume de transações, uma maior quantidade de bens/serviços produzidos e vendidos, etc. Isto é CRIMINOSO! Não somos ainda capazes de estrangular o crescimento em indústrias como a petrolífera ou a química. Estas indústrias são, num horizonte de 100 ou 200 anos, insustentáveis! Não podemos gerar o lucro agora, sabendo este não se compagina com a nossa sobrevivência, sem qualquer consciência de que este tem de ser reconfigurado em contributo (ou, pelo menos) para a nossa sobrevivência. Em muitas economias e indústrias, o crescimento não tem mais por onde proliferar! Salvo casos em que este possa ser atingido através de uma optimização de processos cujos efeitos financeiros sejam superiores à redução de lucros obtidos (haveria lugar a crescimento de receitas na mesma, contudo não haveria crescimento no sentido lato da palavra).
4. O Crescimento não tem contextualização: quero com isto dizer que é crescimento o aumento líquido do volume de negócios, como é crescimento a obtenção de lucros através da diminuição de custos ou através da conquista de quota de mercado! Temos o dever de diferenciar o crescimento: sustentável ou não, racional ou não, ético ou não! Temos demasiados anos de civilização e demasiada informação disponível para ignorar a importância desta distinção de conceitos!

Em suma, o crescimento, a meu ver, deve ser encarado sob o ponto de vista, não querendo soar simplista (mas soando), de uma equipa de 4x100m estafeta: a competitividade pela vitória é constante, é peremptório trabalhar arduamente, é fulcral ter um excelente desempenho mas, mais que tudo isso, é OBRIGATÓRIO entregar o testemunho ao colega em condições de ser atingido o sucesso na fase seguinte! Isto é Crescimento Sustentável!

Sim eu sei... Mais uma perspectiva pouco pragmática da coisa... Mas as palavras estavam cá para serem paridas!! Para a semana serei mais pragmático: Plutocracia e a sua Abolição: A mudança de paradigmas!

PS: Rui... Isto de vir mudar de temáticas a meio é complicado, vais antecipando, ao teu bom estilo pragmático, algumas das ideias a defender ;)