quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Capitalismo Social

Considerando o tema extremamente interessante e relevante trazido pela crónica de ontem, farei hoje uma pausa na temática que vinha a ser seguida (reforma do sistema nacional de saúde) e adiantarei algo que tinha programado para ser apresentado aquando da discussão sobre o sistema económico e financeiro: o modelo económico actual, que futuro?


Penso que para que um debate se torne mais robusto e credível não basta dizer mal ou apontar defeitos, devendo também indicar possíveis soluções de alternativa. Pois, só com a realização deste exercício se consegue ter uma visão abrangente do problema e a concomitante clareza da eficácia e eficiência da proposta. Porque uma ideia pode ser muito "bonita" na sua essência, mas na prática ser uma tragédia humana e social (ex: comunismo).


Adicionalmente, na construção de uma hipótese deve-se reduzir variáveis devendo para tal fixar alguns factos / princípios de base, sobre os quais se irá depois trabalhar as ideias propostas.


Assim, começarei por apresentar alguns factos importantes:


i) como diz o filósofo: "existo, logo penso" (não, não está invertido). Isto é, qualquer ser vivo "quer", é intrínseco da sua natureza, pois ou "quer" estar vivo, e luta para isso, ou morre;


ii) qualquer animal quer "ter", quer ter mais força, mais território, mais fêmeas, mais descendência, etc. Ou seja, quer se destacar dos outros e "vencer";


iii) os seres humanos não se isentam dos pontos anteriores, sendo transversal a qualquer cultura humana de qualquer época o "querer ter".


Adicionalmente, gostaria de apresentar dois pressupostos, os quais não sendo factos, são senso comum:


a) qualquer paradigma apresentado irá ser posto em prática por/em pessoas;


b) qualquer paradigma apresentado deverá ir de encontro ás necessidades da pessoas para as quais é pensado.


Finalmente, gostaria de apresentar a minha perspectiva de alguns conceitos:


α) justiça – cada um tem aquilo que merece, ex: quem mata merece ser castigado, quem se esforça merece a recompensa pelo seu trabalho.


β) liberdade – cada um decide/escolhe o que quer para si próprio, assumindo com isso a responsabilidade por essa escolha. Há que ressalvar que a liberdade de um deve acabar quando começa a liberdade do outro.


γ) lucro – o valor remanescente depois de pagas todas as despesas.


Assim, tendo em conta estes factos, pressupostos e conceitos, passarei à análise do tema trazido pela crónica trazida ontem.


Desde há séculos que se debate qual o melhor modelo económico, pois, também desde essa altura se percebeu que um sistema económico robusto é essencial para se ter prosperidade e paz. Contudo, cedo foi verificado que essa prosperidade e paz não eram duradoiras se não houvesse justiça distributiva e se permitisse abusos (ex: de puder).


O sistema económico capitalista tem sofrido "avarias" ao longo dos séculos, contudo, tem sido capaz de se adaptar e perdurar. Isto porque é o modelo que surgiu "naturalmente" respondendo ás necessidades comerciais e o que melhor permite adaptação e flexibilidade. Ao contrário de outros modelos pensados e posteriormente impostos por uma minoria "intelectual" á população (ex: comunismo).


Assim, apesar de precisar de ser reestruturado, penso que de momento não há alternativa ao capitalismo, pelo mesmo motivo que não há alternativa à democracia, são os modelos que permitem maior liberdade individual de escolha.


O capitalismo não mais faz do que passar o conceito de liberdade individual e o factual "quer ter" para o "mundo económico" onde uma empresa, tal como um indivíduo, movendo-se pelo natural instinto de querer mais, é recompensada com "lucro" pelo o seu esforço. Mais, como é compreensível, só com a liberdade competitiva é que há esforço e evolução, e só havendo lucros (excedentes) é que um indivíduo ou uma empresa têm margem de manobra para poder investir e crescer. Por isso, julgo não haver alternativa a um sistema económico que não permita estes conceitos.


"O que está mal" não é o capitalismo mas o abuso do capitalismo por uns em detrimento de outros, mais uma vez, como acontece com a democracia. Ou seja o "que está mal" é a fiscalização/regulação e justiça distributiva. "O que está mal" é o exagero americano do capitalismo onde não há um conceito de estado social que regule a economia, faça uma gestão adequada, e distribua os benefícios de ter uma economia pujante. Pois, o se o capitalismo se baseou no conceito de liberdade individual deve abranger toda a sua essência e ser-lhe inerente que a sua liberdade de procura do lucro termina quando invade e liberdade da necessidade colectiva.


Deste modo, aqui no sistema económico, tal como noutros sectores, um paradigma só funciona se for equilibrado / sustentável. Por isso, é que perspectivo um modelo económico capitalista fortemente regulado e fiscalizado pelos governos, os quais devem ter o dever de redireccionar as mais-valias obtidas pela economia nas necessidades sociais da população. População essa que, por sua vez, tem o direito e o dever de ser civicamente interventiva e regular / fiscalizar a acção governativa, pois isso é que é uma Rés Publica. Contudo, para que isso aconteça, é necessária uma população educada, formada e informada.


Assim se percebe que, tal como não é possível reformar um sistema que não funciona no todo com medidas pontuais ou avulsas, também não é possível mudar um sistema social sem pensar no todo de novo. Da mesma forma, não possível adoptar directamente sistemas ou parte de sistemas que funcionam bem numas sociedades para outras sociedades. Por isso, é que este sistema de "estado social" funciona em algumas sociedades (ex: Suécia, Alemanha, Suíça, etc) e não funciona noutros (ex: Portugal). Para que o capitalismo social funcione em Portugal é necessário reformar uma série de outros sectores paralelamente.


Para que Portugal funcione é preciso reformular Portugal!



O que vai VOCÊ FAZER em relação a isso?