sábado, 24 de março de 2012

Um novo ciclo


Mais tarde ou mais cedo teremos que mudar de modelo social, é uma inevitabilidade e é independente de ideologias. As mudanças demográficas estão em curso acelerado e os efeitos estão a começar-se a sentir na segurança social, nas relações entre as nações, nos orçamentos nacionais e na paz social.
As mudanças demográficas começam a inviabilizar o antigo modelo de reforma, cuja alteração profunda se atrasa e deste modo aprofunda a própria questão. Isto se deve em muito á existência de resistências naturais pelos movimentos sindicais que infelizmente não estão limitadas á direito ou á esquerda, pois o populismo mora em todos os quadrantes politicos. Nesta base devemos começar a afirmar a necessidade de existir um movimento de pressão para um entendimento útil e alargado que assegure uma politica coerente para várias gerações.
O problema da segurança social é bem real, desde a descida do rendimento disponível, por parte dos idosos, e deste modo tambémj das suas condições de vida, mas também ao problema orçamental que tamanha sobrecarga de despesa significa na economia e no orçamento. As soluções para este modelo passam ou por aumentar impostos ou por diminuir os recursos para outros sectores, de qualquer modo ficamos em situações potencialmente insustentáveis, em especial atendendo aos graves défices orçamentais dos países da Europa. Esta situação torna-se ainda mais grave pela potencial perda de capacidade de financiamento, a estes países, e de resposta a crises globais cada vez mais erráticas, colocando em risco as economias destes países.
Também a paz social poderá correr riscos, porque a exclusão social e a pobreza associada á consequente diminuição de prestações e investimentos sociais faz com que a aquilo que foram politicas proactivas de igualdade e inclusão caiam por terra e tensões sociais reforcem a despreocupação com principios do regime democrático acossados pelo populismo.
Talvez seja no departamento social que tem de existir maior atenção após a crise amenizar, em especial ás politicas de migração, á diminuição da emigração quase forçada e á toma de politicas proactivas de imigração e de natalidade que revertam a nossa crise demográfica antes que se torne um factor demasiado pesado na economia e na sociedade para poder ser concertado.

Num pequeno aparte queria mencionar algumas coisas:
1. A greve é um direito que assiste, dentro da lei, os cidadãos; existem abusos como sempre por parte de pessoas menos bem intencionadas. Os abusos de alguns manifestantes são reais, mas como é óbvio uns não podem ser julgados pelos outros como aparenta ter ocorrido.
2. O clubismo é natural e para todos os efeitos é irrelevante na vida prática das pessoas. Contudo está atingir absurdos especialmente visíveis numa situação em que uma educadora de infância ensinava, inocentemente ou não, uma canção em que se dizia “viva o Benfica”. Os gostos não se discutem poderia dizer alguém e a mim parece mesmo que gostos clubisticos não se discutem, em especial para crianças de 5 anos. Talvez o pai furioso com tamanha influência sobre a filha devesse canalizar as suas questões pessoais e clubisticas para um plano moral mais elevado, que não usar a filha para cruzadas disparatadas.


Paulo Coelho