sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A solidariedade entre trabalhadores e a greve

À luz das recentes e extensas greves na CP ficamos cada vez mais abismados com a displicência que certos sectores do tecido laboral se dão ao usufruto do direito da greve. Sempre fui e sempre serei daqueles que quer dar o benefício da dúvida em especial aos que por definição no sistema económico-social se encontram na classe inferior. Fazer greve é um direito que assiste quase todos os trabalhadores excluindo com as devidas achegas prestadores de serviços públicos indispensáveis á correcta ordem pública. Por ser um direito sobre qual a nossa democracia está baseada e o qual eu concordo em absoluto não posso de deixar de entender que o seu abuso apenas prejudicar aqueles que o usam devidamente. Mais posso dizer que neste país em que milhares de empresas privadas vivem há anos desgovernadas por gestores incompetentes e sem responsabilidade empresarial ou social para com os colaboradores não "concedem" tão facilmente esse direito como no sector público.
Sejamos sinceros em admitir que todo aquele que desempenhar funções especializadas, como um maquinista, tem mais margem de manobra nas disputas laborais que um individuo não especializado, é puramente e simplesmente uma questão de mercado de trabalho para cada função.
No entanto tal não devida conceder o direito moral (o direito legal não está em questão) de dinamitar uma empresa que apesar de estar em regime monopolista, pertencendo ao Estado, ou seja com capacidades, in extremis, quase infinitas de financiamento ainda procura ter alguma sustentabilidade financeira. Muita gente parece ainda estar iludida que vai escapar ilesa á crise que nos avassala e que continuará a piorar. Os maquinistas são apenas o mais recente exemplo desta ilusão.

Em inúmeras fábricas e nas muitas lojas, os encerramentos sucedem-se, empresas em trajecto descendente há muito tempo finalmente sucumbem ao inevitável fecho e despedimento de empregados.
São situações destas que põem tudo em perspectiva no que toca á manifesta desigualdade social que reina na sociedade portuguesa em relação às condições laborais de sectores privado e público. No sector privado empregados muitas vezes dedicados acabam longas carreiras devotados a fazerem mais e melhor ao longo dos anos, aturam sucessivos atrasos de ordenados baixos, são complacentes com inúmeras violações de lei laboral e tudo em nome de uma empresa da qual se sentem fazer parte, pela qual lutaram e suaram, pela promessa de melhores tempos ou simplesmente porque nada mais tem que fazer que não seja bater-se pelas últimas réstias de esperança num emprego sem o qual são demasiado novos para a reforma e demasiado velhos para novo desemprego. No sector público o funcionário tem um vínculo quase vitalício, um ordenado para funções equivalentes quase sempre superior aquilo que poderia receber no privado, tem mais benefícios e uma segurança laboral abismal pois só por competência kafkiana é exonerado levando sempre á conclusão que a cultura de exigências laborais está tão enraizada como o corporativismo dentro da esfera do Estado.
A isto devemos somar jovens, muitos estão qualificados, que em muitos casos preferem permanecer desempregados, e viverem do seu apoio familiar e social, a procurem empregos menos remunerados bem como os casos separados ou sobreponíveis de terem diplomas mas não terem competências, atitude, projectos de reformulação profissional e conhecimentos para serem úteis em outras áreas que não as da sua formação original.

A situação laboral de inúmeras pessoas neste país está transformar-se um perigo social iminente, pois ninguém pode contornar a crise mas um sentimento de justiça era imperativo pois esta injustiça social e laboral é explícita e corrompe a união da nossa sociedade. Para combater isto e a crise deveria existir um sentimento de solidariedade entre todos os trabalhadores. Pergunto-me se os valentes camaradas da CGTP, do PCP e dos grevistas da CP pensaram nas dezenas de milhares de trabalhadores que sem hipóteses de alternativa viável tiveram mais um dia de trabalhos dobrados? Se chegaram a horas a casa? Se conseguiram sequer chegar ao emprego? Onde está o respeito e solidariedade para com o trabalho dos outros que tanto reclamam estes sindicalistas?

P.S. Peço desculpa a todos que possam ler, ainda que esporadicamente, este blogue e em especial aos outros autores neste blogue por não ter publicado na semana passada o meu comentário semanal, em honra do compromisso assumido pelos autores de um texto por autor por cada dia útil da semana, mas as festividades natalícias ocuparam mais tempo do que inicialmente previsto. Ficam os desejos de que todos tenham tido um Bom Natal.