sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A felicidade e a esperança

Nem sempre me sinto confortável em falar e escrever de coisas tão pouco tangíveis, contudo, parece-me interessante e pertinente falar sobre estes dois temas nos dias que correm.
No último ano muito se tem falado da crise, seja económica, de valores ou de direcção, ficamos ladeados por ideias que acabam sempre por desaguar num sentimento de impotência e resignação, sentimentos esses bem conhecidos dos portugueses.
Mas também tem sido um ano de mudança; quem diria que nos EUA manifestantes de esquerda sairiam á rua para fazer público o seu descontentamento. Devo dizer que me apraz que pessoas do meu campo ideológico assumam a diferença e reclamem a suas ideias e herança dentro da esfera pública e na matriz da sociedade.
Acima de tudo, fico feliz pelas pessoas passarem do cinismo militante para a simples militância das suas ideias em prol da mudança. Querer a mudança é simples, mas executá-la requer fundamentação social. Nem todas as mudanças são positivas, porém parece que a promessa de mudança por si acaba por ser aquilo que estes manifestantes querem.
Ao contrário do que muitos comentadores de direita dizem, estas manif são pacíficas pois mesmo podendo existir crimes e desacatos, a verdade é que não se pode julgar todo um movimento por um ou outro incidente, á semelhança do que aconteceu relativamente aos casos de pedofilia na Igreja Católica.
Aqui não há nostalgia do Maio de 68, um tributo ou resquícios de fundamentalismo. Existe sim um conjunto de valores que são significativamente diferentes das gerações anteriores. Eles querem uma outra noção de progresso que não o simples aumento do poder de compra de cada individuo. Esta sociedade começa, pelo menos aparentemente, a exibir uma preocupação genuína com a distribuição da riqueza e de um modelo sustentável de desenvolvimento nas mais diferentes dimensões da nossa vida.
Esta nova geração não quer o progresso a qualquer custo, não quer uma mansão ou um grande carro, esta geração vê o futuro de forma mais humilde, pelo menos no que se refere a bens materiais. Esta geração entende que redefinindo o seu estilo de vida elimina preocupações em problemas que para eles não fazem sentido. Simplificam a sua vida ao acabarem com a constante procura por mais e maior. Encaram a vida em termos de qualidade e procuram o seu pedaço de paraíso na simplicidade, mas sempre com bastante realismo.
Falta muito para que daqui possamos evoluir para um estilo alternativo de vida em padrões mais sustentáveis, contudo, a evolução está em curso. Para já a felicidade de muitos destes jovens, na sua maioria licenciados desempregados às quais as expectativas saíram goradas, reside na esperança da mudança na sociedade, mas também na certeza que a vida deles apenas depende deles mesmos e dos seus valores.
A um homem, ou mulher, que faz da sua vida e da sua felicidade a assunção dos seus valores sempre com o respeito pelos outros, eu apenas posso desejar toda a felicidade.
Paulo Coelho