sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Mais um tratado, mais uma viagem

Na semana passada sucedeu-se o cada vez mais habitual ritual. O eixo franco-alemão (a prosopagnosia de Vítor Gaspar) define objectivos, calendário e condições, os jornais vaticinam a última oportunidade antes que o caldo vire e as agências baixem o AAA a estes dois colossos. Para que isto não aconteça é preciso mais disciplina orçamental. Será mesmo? Talvez sim, afinal, pelo menos na crença geral, foi a dívida que nos trousse aqui contudo não nos devemos abster de fazer as análises devidas.

Temos que notar que o BCE acaba por não ser verdadeiramente um banco central dos europeus mas sim o fantoche do Bundesbank, sem emitir moeda, baixar taxas de juro ou emitir dívida ficamos completamente isolados, incapazes de responder e trazer algum alívio a uma situação financeira e económica que não se advinhava fácil sem recessão europeia e que apenas piora com o degradamento da conjectura global. Caminhamos para uma Europa federal sem representatividade democrática, em vez de um directório passamos para o governo bilateral dos poderosos e ricos.

Devo no entanto reparar que a saída desta crise na actual situação do euro não é fácil, a Alemanha de modo geral questiona o euro e a própria UE. O eurocepticismo espalha-se como fogo bravo e poucos podem oferecer liderança inconstestada ou fundamentada o suficiente para dar estabilidade e clareza no caminho a seguir, mesmo acreditando que isso não fai segurar os mercados. Aliás tivemos na semana passada liderança

Transferimo competências que nos tiraram soberania e capacidade de resposta para em troca receber um rating superior e juros mais baixo. No entanto ficamos sujeitos á indiferença dos restantes países quando sobre ataque ficamos apenas com um resgaste e nenhuma indicação de sustentar o crescimento.

Não vale a pena expurgar tudo em Sócatres e anteriores governantes, eles têm porções significativas da culpa contudo devemos mencionar que foram também as agências de rating que davam nota máxima ao lixo financeiro que esteve na origem desta crise, incapazes de descer efectivamente o rating dos EUA para um nível condicente com a suas capacidade de pagar a dívida. Ao contrário do que é propelado pelos media anglo-saxónicos o crescimento americano e aquilo que é designado os seus fundamentais estão em mau caminho, sem perspectiva de melhorar. Sem capacidade produtiva, com dificuldades em exportar, criar emprego, dívida assoladora em cerca de 100% do PIB, crise demográfica, sucessivos planos de estímulos que se goram instantaneamente, direcção política pouco ou nada definida (vejam apenas a recente incapacidade do super-comité bipartidário para o deficit ter sido incapaz de acordar politicas e compromissos fundamentais) e taxas de juro e valor do dolar em valores recorde como os mais baixos das últimas 2 a 3 décadas, as agências agitam a bandeira do AAA ao Senado para parar as sucessivas pressões políticas.
Tudo aponta que os EUA se afundam mais depressa que a Europa e mesmo assim continuamos o patinho feio da dívida do mundo civilizado. Aqui está a demonstração do viés destas agências e o porquê da indepedência face a estas deve ser conseguida o mais rapidamente possível.

Para remediar tudo isto é nos imposto uma bula, a cicuta financeira. Os limites de defice e endividamento são ridículos, novamente sem qualquer atenção para as capacidades reais de cada país em tempo oportuno os cumprir, pois para tal acontecer é necessária uma reestruturação da nossa e muitas outras economias. É precisa uma reestruturação da economia de sector terciário definido pelas políticas de destruição da capacidade produtiva com subsidiação extemporânea da economia portuguesa. Não nos enganemos os alemães quiseram afastar competição e expandir os mercados com concessões quase vitalícias ás suas indústrias, tendencialmente competitivas entre europeu, para os mercados europeus.
Não me entendam mal, eu acredito que um país deve ter pelo menos as suas dívidas geridas de modo sustentável e é isso que eu quero para Portugal, mas também sei que não existe milagres e sem investimento significativo podemos partir para uma crise impar na nossa história tal e qual a Grécia. Este é um risco muito plausível, pois sem crescimento ficamos incapazes de pagar dívida apesar de muitos sacrifícios que possam ser feitos. O pagamento da dívida é inequívoco mas a renegociação é quase inevitável se as perspectivas de crescimento negativo acentuado na dos 4% se concretizar como muitas instituições estão apontar. Mas o pior é que ficamos completamente arredados enquanto legitimos eleitores desta democracia de participar em tão bonitos e importantes tratados e cimeiras.

Um agudizar da crise seria o príncipio do fim deste regime.
A tudo isto temos que somar a geral falta de confiança no regime nos valores que supostamente defende. A democracia geralmente deixa colher simpatizantes em crises profundas. Por isto e pelo futuro deste país e da Europa, está na hora de manisfestar e reclamar o nosso direito no voto de matérias tão importantes para o futuro pois já não são só dívidas mas é o nosso futuro e a nossa capacidade de decidir que estamos a hipotecar.

Vota e manisfesta-te ante que seja um mero exercício de futilidade.