Não querendo embarcar na viagem de falar o quão mal está o
país, queria alertar para cenários do nosso futuro próximo.
Ficamos cada vez mais arredados de poder de compra. O
português desenrasca-se sempre, dirão muitos, mas mesmo assim em comparação
para outros países em resgaste vemos que as nossas condições são más. As nossas
condições são objectivamente más, os indicadores de organizações internacionais
deixam isso muito claro e como tal devemos reflectir no modelo social a
procurar, pois fica claro que fomos deixando valores e capitais sociais sem
investimento, valores que podem custar a segurança, a paz social, a sáude e a
educação tendencialmente gratituitas.
De uma década de liberalismo camuflado, os nossos direitos e
responsabilidade de lutar pelo emprego e salários justos desapareceram. Durante
vários governos o pseudo-liberalismo dava regalias sociais que complementavam
de um modo um tanto indiscriminado e pouco criterioso o salários dos
portugueses de classes média e baixa, ou seja o Estado subsidiava a falta de
competitividade das empresas, pois o real poder de compra era amenizado por
apoios socias, muitas vezes não merecidos e mal direccionados. Com isto, estes
governos foram ficando impunes aos fracíssimos aumentos salariais, em especial
em comparação com outros países europeus de desenvolvimento semelhante e á real
necessidade de fomentar a competitividade que não fosse via desvalorização
salarial.
Os subsidios de salário deram carta branca que os sucessivos
governos darem ao patronato o poder em prosseguir o seu desenvolvimento via
baixa de salários. Somos usurpados de emprego pelas lógicas de mercado, pelas intransigências
sindincais, pelas lógicas de crescimento empresarial via salários baixos e
perdas de regalias socias do estado e das empresas bem como politicas fiscais
que enforcam o mérito e o trabalho dos assalariados enquanto que o estado se
verga em compromisso com PPP e outros negócios ruinosos para o interesse
público. Sem regalias socias, com monópolios privados vamos vergando até
ficamos sem margem a não ser para quebrar.
Paulo Coelho