domingo, 1 de abril de 2012

Subsídios. O bólide da inércia?

Ao longos dos anos temos ficado parados numa mentalidade que faltando algo a algum cidadão, esse algo podia ser dado sem um confronto com a realidade da sustentabilidade financeira de tamanha prestação seja um serviço público ou subsídio. Começamos a desenvolver uma perspectiva que nos dizia que sempre que os rendimentos familiares mingavam por esta ou por aquela situação instauravam-se subsídios e apoios para complementar ordenados. Ou seja para compensar o orçamento familiar dos portugueses em especial das famílias de classe baixa e média, os governos optavam por subsidiar em vez de exigir aumentos salariais condizentes com a inflação, em vez de apoiar a produtividade com incentivos fiscais criteriosos à formação e à compra de equipamentos sofisticados sustentavam a economia com obras públicas cujos efeitos nas contas públicas e na economia agora tão bem conhecemos. As reformas são feitas agora a muito custo em muito pela inércia de sindicatos mas também de patronato. Os sindicatos tal como o patronato poderão exigir tudo e mais alguma coisa mas aquilo que conseguem começa a ficar patente é que os sindicatos pararam no tempo pois recusaram-se negociar modelos antiquados incompatíveis com a realidade laboral e empresarial no mundo. Esqueceram-se que não estamos sozinhos no mundo e que realmente existem mercados globais sem os quais ficaríamos menos desenvolvidos, aliás a negação comunista da globalização é principal razão para o decaimento do movimento sindical. Este movimento já deu grandes e justas vitórias aos trabalhadores mas refugiaram-se em doutrinas alienadas da realidade e consequentemente desperdiçaram oportunidade de acordos justos e ajustados com ganho para os trabalhadores. No entanto também o patronato foi cretino ao empurrar o Estado para aquilo que não queria fazer: atribuir salários justos e ser o motor da inovação. Durante duas décadas de um crescimento um tanto incipiente muitos milhões próprios, fiduciários e públicos foram esbanjados num novo riquismo absurdo sem qualquer ganho de competitividade.

No entanto quem ganha nesta equação é sem dúvida o patronato que por intransigência negocial dos sindicatos foi impondo sucessivas exigências cada vez maiores, umas justas e benéficas para a economia e outras completamente injustas, um roubo aos trabalhadores e um atestado de incompetência á classe empresarial deste país. Quem leu o código de trabalho há 20 anos e o lê hoje fica atónito com tamanha revolução que entre aspectos positivos e negativos pouco vê de útil para o país. As mudanças vem e pouco se assiste em termos económicos. Os salários reais mingam e não existe uma definição clara politica a longo prazo que não o que a troika quer. Mais uma vez temos um tema importante a discutir e estamos num debate de surdos para o futuro do país e parecemos esquecer que para evitar uma guerra de classes tem que existir um verdadeiro qui pro quo, ou seja esquecer ideologias e obter resultados tangíveis para os trabalhadores de modo a moraliza-los para uma verdadeiro poder na sociedade e nas empresas. Mais que direitos laborais os trabalhadores devem reclamar participação democrática nas empresas, ganhar poder dentro das empresas ou seja transcender a simples relação da remuneração para ter mais responsabilidades. É daqui que vem o real poder. Talvez aí os gestores sejam confrontados com a sua inaptidão e queiram mais do que simplesmente tirar direitos ou diminuir salários e passem a dar contrapartidas com potencial pela retirada de direitos e remuneração.