quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Um humilde vislumbre de estratégia



Em boa verdade, todos sabemos que não existe uma estratégia a longo prazo, talvez seja esse o verdadeiro factor de medo e que tira a esperança aos portugueses.
Já compreendemos que o único factor capaz de despertar a economia e, consequentemente, mitigar as questões orçamentais de endividamento e das mais diversas moratórias sobre as quais vivemos passa, na sua essência, pelo crescimento das exportações.
As exportações têm vindo a crescer, mas apenas de modo relativo, em termos absolutos ainda não são suficientes para quebrar a tendência recessiva que vivemos. O crescimento das exportações tem vindo a desacelerar, consequência da contracção dos mercados europeus, os principais mercados exportadores de Portugal.
Fica claro que tem de ser feita uma aposta na diversificação de mercados. Isso implica muita coisa. Primeiro, implica maior risco, fora da EU existem regras diferentes de comércio, tarifas e inúmeros outros factores fiscais, legais e alfandegários, bem como entraves diplomáticos e políticos. Tudo isso equivale a um acréscimo de risco considerável e no mundo económico o risco equivale a dinheiro pago em juros sobre investimentos.
Logicamente que esse risco tem que ser suportado pelo Estado, sem fontes privadas com segurança e disponibilidade para suportar esse risco, o Estado, pelo interesse nacional, deve apoiar estas empresas com seguros de crédito competitivos, condições privilegiadas de crédito, apoio burocrático nos países de destino das exportações, formulação de protocolos firmes e estáveis para quebrar as diversas barreiras bem como um estudo que permite conectar canais sustentáveis de distribuição entre os países importadores e Portugal.
Devemos, também, considerar benefícios fiscais, via IRC e TSU, para empresas exportadoras, facilidades de tesouraria em termos de pagamentos fiscais, pois em tempos de contracção do consumo interno, ou seja, o vulgo ajustamento, apenas o crescimento em volume permite diminuir o desemprego, a despesa social e, deste modo, reequilibrar o orçamento.
No entanto, tudo isto implica que haja uma política diplomática pró-activa e sem complexos capaz de jogar dentro da EU, a esfera natural de influência de Portugal, da CPLP e, em menor extensão, na NATO. Porém, para dar um exemplo concreto, pouco está a ser feito para que esta politica seja mais dinâmica e exerça mais pressão, no ano da cultura entre Brasil e Portugal, num mercado estável e com crescimento elevado e em que as empresas portuguesas podiam firmar bases de expansão para os diversos mercados da América latina, a oportunidade cultural falha por não ser vincada o suficiente pelas instituições oficiais de Portugal. Temos de fortalecer laços para poder ter manobra politica e influência suficiente para vencer barreiras proteccionistas do mercado brasileiro.
Fica igualmente claro que, num país pequeno que para crescer tem que se abrir ao mundo, a politica externa não pode ser um mero pormenor e que tem que ser trabalhada arduamente nos programas políticos dos diversos partidos, que não se limite à EU e, para isto, os portugueses tem que deixar de ser provincianos, estar preparados para competir, implicando isso conhecer o mundo global em que vivemos, as necessidades e as oportunidades que nele residem. É preciso que os portugueses tomem consciência da exigência oportuna que devem ter no debate politico e nas eleições em todos os pontos da vida politica, não apenas das questões internas, mas também da politica internacional e das consequências para o nosso país.
A cultura tem que ser uma porta de entrada para os mercados, é essa a mensagem que devemos reter da nossa época áurea: os Descobrimentos. Por isto, não se compreende o desinvestimento na cultura. A cultura devia ser apoiada e direccionada para o exterior, esse seria um cartão de visita para contactos mais firmes e cordiais aos acordos políticos. É na CPLP e nos mercados relacionados com estes países que Portugal deve investir diplomaticamente para as suas exportações poderem crescer, em mercados pujantes, em estabelecer pólos de crescimento orgânico e de distribuição sustentável em diferentes regiões.
Só depois de reajustar o nosso portefólio de mercados é que podemos pensar em investir em novas áreas, reestruturar indústrias, ajustar a capacidade produtiva e reavaliar e analisar as potenciais mais valias que podemos imprimir nos produtos vendidos lá fora.