Por vezes temos de mudar o paradigma com que enfrentamos a
vida, porque queremos ou porque a isso somos obrigados.
Este é em si um processo moroso, trabalhoso e muito, muito
difícil. No início vamos negar essa necessidade / realidade, até que ela se
torna tão evidente que somos forçados a fazer alguma coisa, mas mesmo aí,
começamos a faze-lo contrariados e irritados com isso (porque eu?!). Ao mesmo
tempo quereremos passar rapidamente para essa nova forma de estar, para essa
nova zona de conforto, mesmo que para isso se tenha de ultrapassar passos do
processo.
Contudo, haverá um período em que já não se tem o paradigma
antigo funcional e o novo ainda não está robusto. Aí sentimo-nos perdidos, sem
referências, não sabemos como reagir, nem por onde ir. Nesses momentos,
agarramo-nos com todas as forças á mais pequena centelha de luz que nos
mantenha no caminho para paradigma novo, mesmo que seja step by step.
No entanto, por vezes, esse novo paradigma falha mesmo antes
de estar completo, e, conjuntamente, aqueles que nos poderiam ajudar a
ultrapassar esse momento, não estão ou abandonam-nos, e a centelha
apaga-se.
Nesse momento, encontramo-nos sem antes nem depois, desesperados
e angustiados e praticamente já só vemos zebras (problemas). Aí agarramo-nos ao(s)
único(s) cavalos (coisas boas) que supostamente temos, mas fazemo-lo com uma
força tal que, se por um lado nos tornamos completamente seus dependentes (e
não chega para as nossas necessidades), por outro, sufocamo-lo(s) com esse
esforço.
Então, temos que tomar a decisão mais difícil de todas:
larga-lo(s), deixa-lo(s), perde-lo(s), ficar-mos completamente sós perante um
mar de zebras. Pois só aí, quando assumir-mos que um problema sem solução é um
facto e que não vem, nem há, ninguém para nos ajudar, é que seremos obrigados
a, por dolorosa e extenuante tentativa e erro, a aprender a cavalgar zebras.
Então, quando as zebras se tornarem cavalos, não porque
amansaram ou alguém ou fez por nós, mas porque nos tornamos fortes, resistentes
e resolutos, será aí que teremos o nosso novo paradigma. Um paradigma em que
precisamos muito pouco dos outros, porque somos auto-suficientes, e o que nos
“dão” permite-nos crescer e não colmatar deficits.
Esta viagem individual expressa a viagem colectiva que o pais
tem de fazer para resolver os problemas estruturais que possui.
È preciso um novo paradigma para a sociedade portuguesa. Podemos
nega-lo, irritar-nos, negociar, ficar deprimidos com isso e não sair daqui, ou
podemos aceitar os nossos erros, falhas e problemas como factos e trabalha-los
até se tornarem virtudes. Até termos uma sociedade que produz quase tudo o que
precisa e não tem que estar dependentes do outros. Uma sociedade que vale por
si e que deixa de ser um pedinte para passar a ser um contribuidor robusto.
Será uma viagem difícil e penosa, mas é um caminho necessário
e que ninguém poderá percorrer por nós!
O que é que VOCÊ vai FAZER em relação a isso?